Após inúmeros ataques à obra, “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, entra para a lista de leituras obrigatórias para vestibular da UFRGS.
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul anunciou as obras que serão cobradas no vestibular em 2025. Na nova lista, algumas obras que já eram cobradas permaneceram, como “Água Funda”, de Ruth Guimarães e “Várias Histórias”, de Machado de Assis. No entanto, a grande novidade é a inclusão do livro “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, alvo de censura.
Jeferson Tenório comemora inclusão de ‘O Avesso da Pele’ na lista da UFRGS
Nos últimos meses, o livro “O Avesso da Pele” tornou-se destaque após alguns casos de censura. No caso, o livro faz parte do Programa Nacional do Livro Didático, o PNLD, e por isso está em diversas escolas do país. Porém, uma diretora de uma escola no Rio Grande do Sul fez uma denúncia sobre o livro, apontando-o como “impróprio” para adolescentes.
Desde então, outros estados aderiram à censura e fizeram a retirada dos exemplares do livro das escolas. Em contrapartida, nas redes sociais houve intensa movimentação entre os leitores e escritores brasileiros.
Entre as manifestações, está uma carta de repúdio à censura assinada por grandes nomes da literatura e demais artes no Brasil. Entre os assinantes estão Conceição Evaristo, Chico Buarque, Lilia Moritz Schwarcz, Itamar Vieira Jr e outros. Ademais, o livro disparou em número de vendas e entrou na lista dos livros mais vendidos no país. (Veja lista completa aqui)
Nas redes sociais, Jeferson se disse “comovido” com a inclusão do livro como leitura obrigatória da universidade em que ele mesmo se formou e celebrou que o livro de José Falero também tenha entrado. No post, Jeferson diz que Falero é um “irmão/amigo”.
Para o escritor Tônio Caetano, autor também gaúcho, a UFRGS manda um recado com a escolha da obra para o vestibular:
Quando observo a emergência da censura tanto no que se refere ao “O avesso da pele”, de Jeferson Tenório, quanto na obra “Outono de carne estranha”, de Airton Souza, o perigo é pensar que são casos isolados. Ou situações apenas do meio literário. Não são. Todo dia há diversos atos de censura acontecendo, mesmo que isso não chegue ao conhecimento do grande público. Esse processo vem de muito longe: é filhote, no meu entender, de todo um sistema colonial que segue bem vivo, articulado e sedento em produzir exploração.
Então vem a UFRGS, em meio a este turbilhão, e manda um recado: aqui não!
Tônio Caetano em crônica exclusiva para Revista O Odisseu. Leia crônica aqui.
Lista de Leituras Obrigatórias para Vestibular da UFRGS 2025
Além de “O Avesso da Pele”, a lista de leituras obrigatórias do vestibular da UFRGS 2025 conta com outras três obras novas em relação a listas anteriores. São elas “Niketche: uma história de poligamia”, da moçambicana Paulina Chiziane, “Mas em que mundo tu vive”, do gaúcho José Falero, e também uma seleta de canções do também gaúcho Lupicínio Rodrigues.
Vale dizer que não é a primeira vez que a universidade insere uma coleção de canções para análise literária. Anteriormente, o disco “Construção”, de Chico Buarque, também figurou a lista.
Ao todo, são 12 obras que deverão ser analisadas pelos candidatos do vestibular. Veja aqui quais são:
- “Niketche: Uma história de poligamia”, de Paulina Chiziane (NOVO);
- “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório (NOVO);
- “Mas em que mundo tu vive”, de José Falero (NOVO);
- Seleta de Canções de Lupicínio Rodrigues : “Cadeira Vazia”, “Castigo”, “Cevando o amargo”, “Dona Divergência”, “Ela disse-me assim (Vai Embora)”, “Esses Moços (Pobres Moços)”, “Foi Assim”, “Loucura”, “Maria Rosa”, “Migalhas”, Namorados”, Nervos de Aço”, “Nunca”, “Se acaso você chegasse”, “Vingança”, “(Xote da) Felicidade” (NOVO);
- “A terra dos mil povos”, de Kaká Werá;
- “Água Funda”, de Ruth Guimarães;
- “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez;
- “Um útero é do tamanho de um punho”, de Angélica Freitas;
- “Lisístrara”, de Aristófanes;
- “Várias Histórias”, de Machado de Assis;
- “A Falência”, de Júlia Lopes de Almeida;
- “Coral e outros poemas“, de Sophia de Mello Breyner Andersen.