A mesa com Scholastique Mukasonga na Bienal do Livro Bahia foi marcada por falas potentes da autora e confusão na tradução. Essa foi a primeira vez da autora de Ruanda na Bahia.
Scholastique Mokasonga, intelectual tutsi de Ruanda, veio ao Brasil para participar do segundo dia da Bienal do Livro da Bahia, em 27 de abril. Autora de obras importantes, como “Nossa Senhora do Nilo” (Editora Nós, 2017), que foi adaptado para o cinema, ela tratou, principalmente, da sua relação com a literatura e como a sua família foi essencial no processo de lidar com os traumas trazidos pelo massacre de Ruanda, na década de 90.
Scholastique Mukasonga na Bienal da Bahia: autora fala sobre relação com a mãe e com Ruanda
A fala de Scholastique aconteceu na mesa “Entre lutas e afetos”, que contou com a mediação de Denny Fingergut, apresentadora, entrevistadora e jornalista. A conversa buscou costurar a relação de Scholastique com a sua família e também com o seu país, Ruanda.
De forma emocionante, a escritora descreve a sua relação com sua mãe, Estefânia, que apesar da pobreza e das muitas questões sociais que os atravessava, mantinha um ambiente agradável e feliz em casa, incentivando os filhos a estudar e lhes ensinando caminhos e estratégias para escapar dos perigos, fator que foi importante para que conseguissem sobreviver a opressão de um mundo em guerra.
A essa mãe heroína, ela dedica A Mulher dos Pés Descalços, livro que trata dos conflitos vividos por mulheres durante as lutas entre as etnias Tutsi e Hutu em uma Ruanda devastada. Quando perguntada sobre o papel do seu pai em sua criação, responde que ele era homem religioso e os ensinava a Bíblia, reunindo-os em torno da fé para mantê-los juntos.
Problemas de tradução marcam a fala de Scholastique Mukasonga na Bienal do Livro Bahia
Pela primeira vez na Bahia, a autora foi recebida com alegria por todos que apreciam a sua obra e, principalmente, por pesquisadores que tiveram a oportunidade de ouvi-la. No entanto, a Bienal demonstrou não estar preparada para uma convidada tão importante e apresentou muitas falhas de organização que prejudicaram o evento.
A ausência de um tradutor que traduzisse direto do francês para o português de forma simultânea e a mediação pouco intuitiva, deixaram os convidados desconfortáveis e a plateia desapontada. Porém, apesar de tudo isso, a simples presença da intelectual foi suficiente para fechar com chave de ouro a programação do Café Literário, que começou com duas mesas igualmente incríveis e compostas por intelectuais que discutiram temas que dialogam diretamente com a obra de Scholastique.
A Bienal do Livro Bahia segue acontecendo até o dia 1º de maio e conta com extensa programação. Confira todos os detalhes no site!