‘Porque arte é também sentimento e sentimos raiva, medo e coragem’, diz escritor Vitor Miranda sobre o movimento neomarginal, nova roupagem à estética de contracultura na literatura

Na entrevista com Vitor Miranda sobre o movimento neomarginal, conversamos um pouco sobre a Geração Mimeógrafo, sobre o novo cenário editorial brasileiro e a estética Neomarginal.

À esquerda, Daniel Osiecki, Diana D. N. e amiga em frente ao Wonka Bar em Curítiba em noite de festa neomarginal. À direita, Pedro Alkimista no palco do Wonka Bar em festa neomarginal. (Fotos: Movimento Neomarginal (@neomarginais)/Reprodução).

Ao contrário das escolas literárias, como o arcadismo ou o romantismo, os movimentos literários são batizados pelos seus próprios integrantes. Isso porque Machado de Assis nunca se apresentou como realista, sendo essa uma classificação futura dos pesquisadores. Mas Mário de Andrade se apresentava como modernista. 

Por isso, costumo ter simpatia pelos movimentos literários. São, geralmente, protagonizados por jovens com ideais um tanto românticos sobre o papel da literatura e sobre a própria vida de poeta. Foi assim, por exemplo, com a Geração Mimeógrafo, na década de 1970, que depois foi batizada de “Poetas Marginais”. 

Essa estética marginal culmina na famosa antologia “26 poetas hoje”, organizada por Heloísa Teixeira (ex Buarque de Hollanda) e que reúne nomes hoje importantíssimos para a literatura brasileira mas que, na época, eram desconhecidos. Entre eles estão: José Carlos Capinan, Roberto Schwarcz, Torquato Neto, Cacaso e Ana Cristina César. 

O conceito da poesia marginal, apresentada por Heloísa era dos que estavam “à margem” das editoras. Esses poetas, como mencionei, imprimiam seus poemas em mimeógrafos e produziam livros artesanais muito rudimentares e faziam sua literatura circular no boca a boca.

De certa forma, nós sabemos, essa literatura foi fagocitada pelo mercado editorial e não pode mais ser chamada de marginal. Hoje, por exemplo, Schwarcz é o próprio mercado literário, ao passo que Antônio Carlos Secchin é imortal da Academia Brasileira de Letras. Assim, onde está a literatura marginal hoje?

‘Literatura Marginal’ é sinônimo de ‘Literatura Periférica’?

Se na década de 1970, entendia-se o marginal realmente como aquele às margens do mercado editorial, hoje é possível encontrar, quase sempre, o marginal como sinônimo de periférico. Prova disso é que a própria Heloísa Teixeira entende assim e faz uma nova antologia incluído mulheres do slam como as periféricas.

Para o escritor e poeta Vitor Miranda, um dos integrantes do chamado “Movimento Neomarginal”, é preciso diferenciar isso. Afinal, muitos dos periféricos estão incluídos na dinâmica do mercado editorial.

Enviei para Vitor algumas perguntas sobre o movimento que, nos últimos meses, despertou meu interesse. Esses poetas sob forte influência da geração da contracultura (no Brasil e no mundo) têm um quê de rebeldia que me intriga. Na entrevista, conversamos um pouco sobre a Geração Mimeógrafo, sobre o novo cenário editorial brasileiro e a estética Neomarginal.

Preferi editar a entrevista de modo a respeitar a estética de Vitor, com as letras em minúsculo e com todas as aspas e links que ele mesmo enviou. Já tudo o que está em parênteses+itálico são comentários ou detalhamentos meus. Confira!’

‘eu, particularmente, não estou muito interessado em reconhecimento acadêmico ou de crítica’, diz Vitor Miranda sobre o Movimento Neomarginal

O escritor e poeta Vitor Miranda sobre o movimento neomarginal/ Foto: Reprodução.

Ewerton: Fale um pouco de você, se apresente.

VM: sou poeta e uma pessoa que por características traumáticas psicológicas se acostumou a andar só ou em dupla, no máximo. por conta disso fui descobrindo meu caminho de flâneur, de forasteiro. tanto na metrópole virtual quanto nas andanças pelos interiores e litorais do país. principalmente por estados mais próximos até onde minha vida financeira possibilitou essas andanças. 

acho que a dificuldade de convivência em grupo foi diminuindo devido aos términos de tantas relações amorosas carnais e também de afetos de amizade dessas duplas. com o tempo as reflexões sobre as relações que se desgastaram vão se tornando um estudo sobre si mesmo e aí cabe ao sensível de cada um aprender sem tentar culpar o outro, mesmo que o outro seja a si mesmo. 

então essa pessoa que me tornei é essa aqui que tenta agrupar artistas que estão ou estavam em busca de pertencimento dentro de um lugar tão cruel que são as relações humanas dentro de um mercado, no caso o artístico. e são em ocasiões cruéis como guerras que os gestos humanos mais bonitos acontecem. como um dia me deram o abraço, a gente tenta passar pra frente o ensinamento. 

então criamos personagens que gostaríamos de ser, mas no fim somos quem nos tornamos. acho que sou a pessoa que aceitou quem é. gostaria de ser muito pior. 

Ewerton: Quanto ao movimento: Como vocês se definem e qual o propósito do grupo?

VM: penso, que a princípio podemos nos definir como vivos e vivas, pessoas em movimento. não sei se tenho esse direito de definir algo que está em movimento.

mas como criador da ideia inicial posso dizer o propósito daqueles e daquelas que estavam no início: formar um grupo para entendermos o lugar comum de nossas obras e criar mecanismos para nossas obras serem temas de diálogo. chegamos a fazer isso na pandemia com o nossa Roda Live Neomarginal onde entrevistávamos um de nós sobre determinada obra. cito dois desses episódios aqui: um onde fui o entrevistado sobre o livro “a moça caminha alada sobre as pedras de Paraty”. e outro onde a artista plástica Ira Rebella foi entrevistada sobre sua tela “Cognição”

essas obras se cruzaram quando eu e Ira nos encontramos a primeira vez pessoalmente. fui entregar o livro a ela em seu ateliê e tomamos um café em frente a imensidão de sua tela. essas duas obras carregam o significado do que somos: a continuação da arte antropofágica. um novo movimento.

(Cognição de Ira Rebella – foto Vitor Miranda)

Ewerton: Existe uma clara referência ao movimento marginal/geração mimeógrafo. Na ocasião, os poetas sentiam-se à margem do mercado editorial. E hoje? Qual a realidade de quem escreve e quer publicar?

VM: é uma clara referência. inclusive já entramos em contato com Heloisa Buarque (no caso, Heloísa Teixeira) que não nos deu muita bola, pra você ver como estamos às margens das margens. o nome surge de uma verdade artística referenciada naquela geração, já que em boa parte somos poetas, mas também é uma ironia com o conceito geopolítico do marginal. a ironia é um dos nossos traços mais evidentes, até pelo meu livro “o que a gente não faz para vender um livro?” publicado pelo Selo Neomarginal, que é uma ode ao mercado dos independentes que andam por aí vendendo seus livros fora do mercado editorial, das feiras, etc etc etc. 

o Selo Neomarginal é o selo de autopublicação do movimento. por enquanto eu e o poeta Henrique Pitt nos utilizamos do selo, que é uma tentativa de criar uma marca por trás daqueles e daquelas que se auto publicam. pois os independentes acabam por nadar sozinhos. 

(Confira o Instagram do Selo Neomarginal)

a nossa luta é para atrair mais poetas e escritorxs de qualidade para o Selo. pois há um benefício grande em se auto publicar que é ser o único dono dos livros e ter o controle todo em mãos: financeiros, logísticos, de divulgação. e com um bom time juntxs lutando por uma realidade comum poderíamos quebrar as dificuldades da independência, que é ser ignorado por eventos ou não ter a possibilidade financeira de locar um metro quadrado numa feira literária. 

penso que seria uma revolução no mercado um selo de auto publicação participar de uma feira literária internacional.

Ewerton: Houve certa demora para que a academia e a crítica literária reconhecesse a poesia marginal dos anos 70. E quanto ao movimento neomarginal? Já existe contato com a academia?

VM: fizemos contato com Heloísa Buarque (mais uma vez, Heloísa Teixeira) por conta de uma antologia que pensamos fazer e buscávamos uma apresentação dela, até pela referência à geração do mimeógrafo. ela até nos respondeu, mas tinha outras coisas mais importantes pra fazer.

assim se deu com meu livro “o que a gente não faz para vender um livro?” onde pessoas que acompanhavam o processo insistiram que o livro mereceria o prefácio de um autor de renome. por ser um livro de contos, o único contista que me agradaria o comentário é o Marcelino Freire, mas ele também tinha coisas mais importantes a fazer, então mandei logo um “FODA-SE O PREFÁCIO!” na apresentação. por coincidência o Marcelino foi o primeiro a adquirir o livro e achou o prefácio genial.

eu, particularmente, não estou muito interessado em reconhecimento acadêmico ou de crítica. faço assessoria de imprensa dos meus livros e boa parte da crítica são publicidades pagas. as críticas verdadeiras que recebi, com bagagem literária falando dos pontos altos e baixos, foram de revistas independentes. quem está nas grandes mídias está dando atenção a quem está na crista da onda, nas grandes editoras, que são “notícia”, pois o jornalismo é um negócio e ninguém está disposto a perder dinheiro. 

‘nossa geração viveu a década passada que desaguou no bolsonarismo e o protesto está impregnado em boa parte da arte dessa virada de década’, diz Vitor Miranda

Ewerton: Na poesia marginal, havia um forte viés político/social de denúncia no poema, fruto do contexto de repressão militar. E hoje? Como o movimento neomarginal vê a situação política e social e como isso chega na poesia de vocês?

VM: dentro do movimento há várias cabeças com pensamentos políticos diferentes. talvez seja o único grupo de whatsapp onde uma pessoa com pensamento político de centro direita dialogue e faça poemas com pessoas de esquerda. há pessoas de periferia e de classe média. pessoas que acreditam em deus e seguem religião, revertidos ao islã e pessoas como eu que acredita que a realidade é tão complexa no nível de existirem pessoas que acreditam em deus. 

mas assim, nossa geração viveu a década passada que desaguou no bolsonarismo e o protesto está impregnado em boa parte da arte dessa virada de década. porque arte é também sentimento e sentimos raiva, medo e coragem.

cito aqui o “poemito”, poema que escrevi e levava às manifestações e que viralizou chegando a estampar cartazes de indígenas em manifestações em Brasília.

(foto Mídia Ninja)

esse poema, inclusive, faz parte de uma música da Banda da Portaria da qual faço parte. temos no movimento também a presença do Thiago KBÇA com a Banda Guerrilha com letras políticas, a Marília Calderón que traz questões políticas históricas e também psicanalíticas dentro de suas canções sobre a loucura. Ikaro Maxx traz poemas filosóficos e de luta pelo indivíduo artista que já é uma luta contra a repressão da própria família. eu, em Exátomos, mais recente livro de poemas trago uma sessão sobre as guerras com o poema “As crianças do mundo” que diz no verso final “as crianças do mundo não estão em paz”. Lai Kaos levanta questões feministas em seus poemas. o poeta Henrique Pitt fez um trabalho irônico alterando as logos das marcas mais capitalistas para conceitos marxistas.

então, sempre haverá contra o que lutar no mundo. os detentores do poder não nos deixam descansar. 

As Festas Neomarginais

Foto: Movimento Neomarginal no Instagram (Reprodução)

Ewerton: Fale um pouco das Festas Neomarginais que o movimento organiza.

VM: as Festas Neomarginais é um protesto contra o próprio sarau. sarau é uma coisa chata e a palavra espanta as pessoas. por isso “Festa”, até para tentar atrair pessoas que não sejam poetas. organizamos a primeira no antigo e saudoso Jardim do Petrus para comemorar aniversário dos poetas Ikaro Maxx e Roger Tieri.

deriva do grande primeiro encontro que podemos por assim dizer neomarginal, quando ainda nem existia de fato o movimento. em 2019 o Sarau Sopa de Letrinhas do poeta Vlado Lima homenageou meu livro “A moça caminha alada sobre as pedras de Paraty” no Bar do Julinho e lá aconteceu uma grande bagunça com Graziela Brum gozando meu livro no chão do bar ao ler o trecho erótico, as pessoas se seduzindo e se descobrindo bissexuais, o evento conduzido pelo bom humor de Vlado e a reunião de poetas que convidei com alguns que não faziam parte da cena. desde ali nasceu conversas com o poeta professor Lucas Limberti sobre eventos de diversão e de um possível movimento, também ocorrendo numa outra conversa paralela entre eu e as duas amigas Fernanda Bienhachewski e Grazi Brum.

mas a festa aconteceu mesmo no pós pandemia quando eu, Ikaro Maxx e Ira Rebella começamos a articular encontros.

após o Jardim do Petrus estabelecemos o formato itinerante com música e poesia e já passamos por outros locais em SP: Porta, Espaço um55, Teatro do IV Mundo, Livraria Sebo Chama de Uma Vela e na última edição fomos até Curitiba num evento histórico no Wonka Bar durante o evento Porão Loquax.

outro requisito da Festa Neomarginal é que no time de poetas convidadxs tenha pelo menos uma pessoa da velha guarda, uma pessoa que esteja iniciando na cena e uma com popularidade acima da média. 

e hoje é organizada por mim, Ikaro Maxx, Lai Kaos e Célio Hohlenverger.

(link para assistir a Festa Neomarginal II no Porta)

(melhores momentos de todas as festas)

Ewerton: Ao que me parece, o movimento está mais presente em Curitiba. Como é a cena literária na capital do Paraná? Quais os desafios?

VM: nós nos organizamos num grupo de whatsapp onde tem artistas vivendo em diversos locais do país. inclusive fora do Brasil. como a concentração maior está em São Paulo, aqui é onde acontece mais ativamente o movimento. na página do instagram vamos divulgando trabalhos e eventos de artistas espalhados pelos quatro cantos.

não consideramos só quem está no grupo como neomarginais. há quem já passou por ali e saiu e aquelas e aqueles que participam dos eventos e/ou nos convidam a participar.

já participamos do Sarau de Paraisópolis, segunda maior favela da cidade de São Paulo. do Festival da Mandioca na cidade de Monteiro Lobato e fomos a Curitiba com a Festa para participar do Porão Loquax.

a ideia é continuar levando a Festa para outras cidades onde existam artistas neomarginais que possam nos ajudar nas articulações.

a maior dificuldade é a questão financeira, pois vamos do jeito que dá sem ajuda, edital, sem nada. quando temos sorte conseguimos levantar um troco com as festas que tem contribuição voluntária.
falando nisso, quem quiser contribuir com o Movimento Neomarginal por pix:

em Curitiba temos alguns Neomarginais no grupo: Ricardo Pozzo, Daniel Osiecki, Maria Vitória Rosa. fora todas e todos que participaram da Festa por lá. não tenho tanta propriedade para falar da cena literária de lá que tem uma força grande até por questões vampirescas e leminskianas, por Alice Ruiz que está de volta à cidade. três ícones da literatura/poesia nacional e que acaba por fazer pressão para que a cidade tenha um calendário de grandes eventos literários, fora a Semana Literária do Sesc Paraná. 

mas ao que me parece os eventos poéticos literários mais undergrounds são realizados por poucos. o grande ícone dessa cena é o poeta Ricardo Pozzo que já esteve à frente de vários eventos, hoje por trás do Porão Loquax junto com o editor da Revista Obsoletos, Yohan Barcz. 

penso que uma entrevista com Ricardo Pozzo sobre a cena literária de Curitiba ia ser interessante.

‘lemos uns aos outros e falamos sobre nós’, diz Vitor Miranda sobre os poetas e autores neomarginais

Kelly Fantini, Vanderley Mendonça, Icaro Maxx e Marcelino Freire/ Foto: Movimento Neomarginal (Reprodução do Instagram)

Ewerton: Quais autores hoje (desta geração) influencia a poesia neomarginal? O que vocês estão lendo?

VM: Edyr Augusto, de belhell, escreve muito! estava lendo a pouco.

Ricardo Pozzo! 

Marcelino Freire. Gero Camilo. 

e lemos uns aos outros e falamos sobre nós, mas deixamos para a última resposta nossos nomes.

Ewerton: E quanto aos clássicos? Quais as influências de vocês

VM: podemos citar aqui pessoas vivas que tem certa ligação com o movimento e que para mim são clássicos: Alice Ruiz, Beth Brait Alvim, Celso de Alencar. 

do núcleo aqui de São Paulo temos duas figuras que permeiam nossas conversas que é Cláudio Willer e Roberto Piva. 

Torquato Neto e Waly Salomão, Ana Cristina César, Leminski, Wilson Bueno, Jamil Snege. 

o autor de dois famosos versos da música popular brasileira “sou apenas um rapaz latino-americano” e “vida, vento, vela, leva-me daqui”, o cearense Augusto Pontes.

os concretistas. Gullar e Drummond.

Patti Smith, Jim Morrison, Bukowski, Bob Dylan, a geração Beat.

de nossa passagem por Curitiba a figura de Danton Trevisan ficou impregnada nos diálogos.

mas isso sou apenas eu falando, algumas coisas são bem minhas. outras que sei do gosto da galera.

‘há a tendência de colocar o favelado como literatura marginal mesmo quando o autor é publicado pela Cia. das Letras’, diz Vitor Miranda

Ewerton: Na teoria, a “poesia marginal” é associada à “geração mimeógrafo”, ao passo que o termo “literatura marginal” quase sempre aparece como sinônimo de “literatura periférica”, incluindo autores como Ferréz, Paulo Lins, Geovane Martins, o movimento do Slam e outras manifestações das favelas brasileiras. Como vocês encaram essas definições e até onde existe um intercâmbio do movimento neomarginal com essa produção periférica?

VM: há a tendência de colocar o favelado como literatura marginal mesmo quando o autor é publicado pela Cia. das Letras e traduzido para mais de sete idiomas e publicado pelo mundo. 

na real, como disse, o nome neomarginal é mais uma ironia com esse lance de sempre haver o novo algo, menos para o marginal. não considero nenhum dos três marginais mercadologicamente, ainda mais nos dias de hoje. são três escritores respeitados, que cresceram e viveram em determinadas paisagens que acabam sendo as paisagens de suas narrativas, pois eles tem autoridade e conhecimento para criar em cima desse recorte da realidade.

eu, particularmente, gosto bastante do texto do Geovane Martins e o acho um dos melhores escritores da geração. isso sem me deixar levar pela paisagem e temática. falo especificamente da construção sonora e rítmica do texto.

sobre o Slam, não é algo que me agrada como texto. acho a importância e a performance mais bonitas. é um movimento que criou possibilidades para as pessoas e a beleza da verdade nas apresentações cativa a quem assiste. 

o movimento neomarginal tem seu nascimento muito pelo meu contato com os interiores de São Paulo e Paraná. falamos muito sobre periferia das capitais, mas pouco se fala do interior quando o assunto é a cena artística. as pequenas cidades do interior estão abandonadas nesse sentido. cinemas e teatros viraram igrejas evangélicas. não há lugar para se apresentar. a corrupção no setor cultural é grande. os artistas entram em depressão sem ter como exercer o ofício. então o movimento nasce desse intercâmbio. alguns dos artistas do movimento vivem no interior.

aqui em São Paulo o poeta Ikaro Maxx viveu uma época vizinho a Paraisópolis e frequentava o Bar Caverna do nosso querido Denis. começamos a frequentar o bar e Denis fez a ponte da gente com a Gleizi Oliveira do Sarau de Paraisópolis que nos convidou a participar. Gleizi já participou da Festa. um dos rappers que conhecemos por lá, o Edi-e faz parte do movimento participando dos eventos e do grupo.

realizamos também uma exposição fotográfica no Espaço um55 onde reunimos sete fotógrafos e uma delas era a Marcela Novais, fotógrafa premiada internacionalmente e que vive em Paraisópolis onde tem a galeria Beco Visceral.

em Paraisópolis também, eu e Ikaro participamos do Favela Podcast conversando sobre os Neomarginais também.

Paraisópolis é um lugar muito rico culturalmente com uma imensidão de artistas. poetas, slammers, rappers, mcs, fotógrafas, entre outras linguagens. pelo Favela Podcast dá pra conhecer bastante gente da comunidade.

Ewerton: Ainda sobre as definições que citei: os neomarginais incluem a prosa, para além da poesia, na produção de seus textos?

VM: um dos prosadores sou eu com o livro de contos “O que a gente não faz para vender um livro?” e também publiquei o romance “A moça caminha alada sobre as pedras de Paraty” com uma linguagem bem específica, experimental, uma prosa poética concreta imã-gética.

o Aramyz é um dos grandes contistas dessa geração, ao meu gosto, e também poeta. Graziela Brum está para publicar o romance “A curva vermelha do rio”. o poeta Henrique Pitt tem o seu “Máquina do tempo”, também um romance experimental numa prosa alucinada onde entramos num mundo que se repete. na nossa Revista Neomarginal há muitas colunas de ensaios, traduções, crônicas de vários de nós. deixarei aqui o link da coluna da Cris Oliveira, que acho uma delícia de prosa.

Sergio Rocha também está pra lançar um livro de crônicas e tem um ritmo muito bonito. Clara Baccarin é cronista e publicou livros de contos. Joana Rizério que é foda! Márcia Barbieri, autora traduzida e publicada nas gringas. 

enfim, vou sempre esquecer de alguém nesses momento, então já peço perdão.

Ewerton: Quem são os nomes do movimento neomarginal, além de Vitor Miranda?

VM: bom, vou citar por cidade onde vivem, naturalidade e ofício (até onde sei) a galera que está no grupo:

São Paulo:

Ikaro Maxx: de João Pessoa. poeta, filósofo, tradutor, editor, anarquista e agitador cultural

Ira Rebella: artista plástica, poeta e dona do Espaço Ira Rebella.

Lai Kaos: de Belém. poeta

Aramyz: poeta, escritor e trabalha na Fundação Casa

Cris Oliveira: poeta, escritora e bibliotecária

Daniel Oper: músico, cantor e compositor

Daniel Perroni Ratto: de Santos Ceará e Marte. Poeta, jornalista e editor da Algaroba.

Dani Hell: poeta maldito

Dimitri Donaggio

Dom Luís Orione: músico, cantor e compositor

Fernanda Fiuza: poeta

Fernando Issa: poeta e advogado

Gabriela Inui: fotógrafa e marchand

Giuliano Lagonegro: cantor, músico e compositor

João Mantovani: cantor, músico, compositor e fotógrafo

Lavínia Pecora: poeta

Márcia Barbieri: escritora

Marina Ruivo: poeta e editora

Marina Balieiro: escritora

Mauricio Eloy: escritor, xamanista e livreiro

Ná Estima: poeta, cantora e música

MundikO: poeta

Nair Ferraz: poeta

Natália Machiavelli: música, cantora, compositora, atriz e poeta

Paula Duarte: cantora e música compositora

Raissa Nashla: artista

Rapper Edi-e: rapper

Rebeca: leitora

Becca Luz: poeta e psicanalista

Renan: DJ

Renata Mormino: advogada, poeta e aprendiz de baterista

Renato Junqueira: músico compositor e profissional do mercado financeiro

Roger Tieri: poeta

Rogério Borovik: performer poético audiovisual

Sergio Rocha: escritor e agitador cultural

Sofia Correia: artista plástica

Thiago KBÇA: rock star e poeta

Célio Hohlenverger

Cornélio Procópio:

Touché: cantor, músico e compositor

São José do Rio Preto:

Van Spressola: poeta

Teresina:

William Feitosa Junior: haijin, poeta e professor

Colatina:

Zião Dionísio

Osasco: 

Nitiren Queiroz: poeta

Registro:

Miê Liriá: poeta, artista plástica e psicóloga

Murilo Gusmão: artista

Zeca Alencar Jr: educador, músico, comporsitor e poeta

Peruíbe:

Levi: músico

Campinas: 

Livia Mota: poeta

Guarulhos:

Lucas Limberti: professor e poeta

Alter do Chão:

Grazi Brum: gaúcha de Arroio Grande. Escritora e agitadora cultural

Curitiba:

Daniel Osiecki: poeta, escritor e editor

Maria Vitoria Rosa: poeta

Ricardo Pozzo: poeta, flâneur, agitador cultural

Navegantes:

Henrique Pitt: gaúcho. Professor, poeta, escritor, editor.

Florianópolis:

Cátia Cernov: poeta e escritora de ficção científica

João Pessoa:

Cezar Sturba: poeta e prosador

Londrina:

Cezar Torres: cantor, músico compositor e escritor

Monteiro Lobato:

Clara Baccarin: poeta e escritora

Salvador:

Joana Rizério: escritora e jornalista

São José dos Campos:

Jim Duran: poeta e ator

EUA:

Ken Ngwa: África. Cineasta

Nômade:

Pedro Quiron: fotógrafo e cineasta

fora a galera que cola com a gente nos eventos, já participou do grupo e de alguma forma está sempre presente. Beto Antunes, o pessoal do Espaço um55, entre várias outras pessoas. todxs que poluem o feed do instagram neomarginal, pois 99% dos artistas o são.

Leia Também: Em ‘O que a gente não faz para vender um livro?’, Vitor Miranda apresenta a prosa Neomarginal

2 comentários em “‘Porque arte é também sentimento e sentimos raiva, medo e coragem’, diz escritor Vitor Miranda sobre o movimento neomarginal, nova roupagem à estética de contracultura na literatura

  1. Luiz Carlos Gama Fernandes Responder

    Didático embora também analítica essa ótima entrevista na visão de um neófito. Parabéns.

  2. Beth Brait Alvim Responder

    Conheci Vitor Miranda há uns seis, sete anos. Na ocasiao, lançamento da antologia Senhoras obscenas, da qual faço parte, parei, olhei fixamente nos olhos daquele moço de cabelos longos e barba, bem à moda dos ícones dos meus jovens desejos, e dali para sempre o sigo e ele me segue. Hoje o homem maduro sustenta ainda a ginga do início, com seu olhar e suas ações agudas e provocativas. Mas confesso que o que sempre me atraiu e atrai no poeta é sua entrega, sua busca teimosa e sua voz constantes, além do amor, claramente expresso, em tudo o que faz, e doado para qualquer ser vivo que ele sinta que seja movido pelo bem e pela liberdade ampla, geral e irrestrita. Abraços em VM, IM, RT, IR. Da sempre vossa, BB.

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