Da referência cinematográfica ao medo sombreado da realidade cotidiana, conto de horror de Carol Antunes pensa o terror que o dia a dia pode revelar inesperadamente.
-Stella, Stella, Stella
O barulho do crânio de encontro ao mármore abafou os gritos de Paulo, que tapou os olhos. Bia sorriu, apenas. Uma expressão demente de pavor e doçura. As pessoas foram se aglomerando em torno da massa disforme e os burburinhos fizeram Ana parar com a xícara de café no ar. Abaixou os óculos e olhou para os rostos crus de indignação que se arrastavam para fora do PAF como almas saídas do inferno de Dante. Balançou a cabeça e começou a escrever sem vontade no diário, aquele mesmo que sempre a acompanhava nas horas de tédio. O tempo parecia parar quando ela estava prestes a dar aula. Era sempre assim, um dia pachorrento, sem alegria e inundado de cotidiano, algo que ela detestava deveras. Os ruídos foram aumentando e logo uma luz vermelha batizou o prédio. Ela bebericou o café e uma gotinha deslizou pela lateral da xícara até a folha branca, manchando a última nota como um pingo no i inesperado.
Sorriu.
Conheça Carol Antunes
Carol Antunes é escritora, poeta e uma apaixonada por música. Formada em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia-UNEB, é especialista em Estudos Culturais e, atualmente, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Literatura e Cultura da Universidade Federal da Bahia- UFBA.