“Da criação de sonhos à destruição de processos através da linguagem inventada para um fazer criativo”, mesa apresentada na tarde do primeiro dia da Flica, contou com a presença de Carol Barreto, Jota Mombaça e Liniker.
Da esquerda para a direita: Carol Barreto, Jota Mombaça e Liniker na Tenda Paraguaçu da Flica 2023. Foto: Érica das Mercês (O Odisseu).
“Da criação de sonhos à destruição de processos através da linguagem inventada para um fazer criativo”, mesa apresentada na tarde do primeiro dia da Flica, contou com a presença de Liniker, Carol Barreto e Jota Mombaça. As artistas discorreram sobre criação e representação como meio pelo qual o enfrentamento do sentido mercadológico e da hegemonia colonial, que permeiam o imaginário no meio artístico-intelectual.
Aberta com uma citação de “Poesia não é luxo”, da Audre Lorde, a conversa fomentou reflexões acerca da inserção de corpos dissidentes no sistema de arte na contemporaneidade, na perspectiva de disrupção da continuidade e evolução no processo criativo. A escritora e artista visual, Jota Mombaça, contou da descontinuidade no seu processo criativo em relação com a escrita, o afastamento da escrita literária após o lançamento do livro “Não vão nos matar agora” (2019), abriu caminhos para a experimentação artística em outras materialidades, como a performance, em “um movimento muito particular de coragem”.
Em sua participação, a compositora e atriz, Liniker trouxe a perspectiva do enfrentamento pela temporalidade. Citando seu mais recente álbum “Caju” (2024), para discutir a subversão da lógica do mercado da música em torno do imediatismo e superficialidade na contemporaneidade: “as pessoas esperam das nossas cabeças, dos nossos pensamentos, de onde a gente se coloca”; produzindo faixas mais longas e trabalhada na concepção do autoconhecimento e da experiência sensorial com o afeto como possibilidade.
Carol Barreto na Flica: ‘Coragem e escolha de se autodespertar’
A mediadora da mesa, Carol Barreto, artista visual e professora doutora do departamento de Estudos de Gênero e Feminismo da UFBA, trouxe outras escritoras negras para a conversa, como Audre Lorde e bell hooks, criando uma atmosférica heterogênea e conexa na mesa. Com perguntas amplas e falas pertinentes acerca da “coragem e escolha de se autodespertar” para essas possibilidades de produção que visam outros fins que não mercadológicos.
Reunindo academia, artes (em suas diversas realizações) e política, as participantes da mesa trouxeram reflexões importantes sobre representatividade e mecanismos de enfrentamento às violências na sociedade. A curadoria de Calila das Mercês foi perspicaz em reunir pessoas de lugares diferentes, vivências diferentes, para apresentar considerações de experiências comuns, como o enfrentamento de mecanismos socias que agem contra corpos trans, travestis, de mulheres e pessoas negras, através da criação de possibilidades em experimentar outros afetos.