‘Há ainda um espanto com esse passado recente’, diz Vera Saad sobre a recepção do seu livro ‘A Face mais doce do azar’

Livro ‘A Face Mais Doce do Azar’, de Vera Saad, tem como plano de fundo o Brasil que acabara de sair da ditadura e passava por instabilidades econômicas e políticas na ‘Era Collor’.

A romancista Vera Saad/ Foto: Elaine Ferreira (Divulgação)

1985: Fim da Ditadura Militar;
1988: Promulgada a “Constituição Cidadã”, como ficou conhecida na época;
1989: Primeiras eleições diretas após 29 anos.

Um período de grandes mudanças que culminava com a eleição de um representante do povo. Penso que deve ter sido um período de grande esperança, pois eram tantas mudanças acontecendo. Seria uma nova década, um novo começo, com liberdade, e esta traria o progresso. Mas o que esperar de um povo que ficou 29 anos sem poder falar de política, sem poder discutir ideias e ideais abertamente? Um povo que, diante de tantas adversidades — inflação, fome, desemprego —, se apegava tanto à fé.

Na hora da escolha, escolheu o milagre, vindo de um partido novo, que os distanciaria do passado, das velhas ideias, dos antigos problemas: o jovem salvador. O resultado dessa escolha é muito bem contado no livro “A Face Mais Doce do Azar” (Claraboia), pela escritora Vera Saad. Vera nos convida a sentar na sala da casa de Dubianca, a personagem central do livro, de onde assistimos aos debates que ocorrem na televisão e os debates entre os integrantes de sua família.

A Revista O Odisseu convidou Vera para uma entrevista que girou em torno da escrita do livro, de suas leituras e também da mentoria que a autora fez com a escritora Jarid Arraes. Confira a seguir!

‘Aprendi que as decisões políticas nos atingem diretamente’, diz Vera Saad sobre a escrita de ‘A Face Mais Doce do Azar’

A autora Vera Saad, autora de ‘A Face Mais Doce do Azar’/ Foto: Elaine Ferreira.

O que a escrita desse livro te trouxe (em relação às memórias guardadas e durante o estudo do tema)?

VS: Aprendi demais com a escrita, a meu respeito e do meu país. Houve uma transformação no final da escrita. Nunca somos os mesmos, mas lidar com esses temas provocou em mim muitas reflexões, senti-me como em uma verdadeira travessia. Pensei na importância da política em nossas vidas. Em como as decisões políticas nos atingem diretamente. 

Como tem sido a resposta das pessoas a esse tema?

VS: Tem sido muito interessante, o livro tem atraído sobretudo leitoras que não viveram a época. Elas se identificam com a narradora, que vivencia as transformações naturais da adolescência. Há ainda um espanto com esse passado recente, que atingiu seus pais e avós de muitas formas.  

Vamos saber mais sobre Maira? Fiquei muito curiosa em ouvir a versão dela, porque no livro é perceptível que muitas mudanças estão acontecendo com ela também. 

VS: Que interessante, não havia pensado nisso! Conhecer a versão da Maira, que, sim, também sofre muitos desafios. Será um grande desafio, mas já gostei, a se pensar. 

Como foi trabalhar com Jarid Arraes no processo de mentoria? 

VS: Digo sem exagero que o livro não teria existido sem Jarid Arraes. Aprendi muito durante sua mentoria, consegui organizar meu romance, dar corpo aos personagens, melhorar minha escrita. Foi incrível, e ainda criamos um vínculo de amizade, não nos perdemos de vista. Jarid faz um trabalho maravilhoso não apenas na literatura, mas também para a literatura, ajudando muitas escritoras a descobrirem sua voz, seu estilo, perderem o medo de escrever. Sou muito fã dela!

O que tem no forno? (Tem previsão das próximas publicações?)

VS: Na verdade, já tenho outro romance no horizonte, ainda no mundo das ideias. Será sobre o trabalho. Ao menos tenho o início: um homem morre um dia antes de se aposentar (baseado em fatos reais!). Não tenho previsão, está ainda no início e sou muito lenta. 

Vimos que você também tem uma coluna na revista Vício Velho, nos conte um pouco sobre esse trabalho, por favor.

VS: Essa revista é incrível. Sim, tenho uma coluna, chamada Palimpsesto, um espaço que Carolina Hubert, fundadora e editora-chefe da revista, lindamente me cedeu. É uma extensão do meu blog, que criei provocada pela seguinte questão: existe ideia original? O escritor é também leitor, há muito do que ele lê no que ele escreve. Palimpsesto é o nome que se dava ao ato de raspar o pergaminho para se escrever em cima. No blog e agora na coluna faço o que chamo de raspadinhas. Cito um trecho de um livro e abaixo mostro o trecho de outro autor que provavelmente pode tê-lo inspirado. Além disso, também convido escritores vivos e ativos que muito me inspiram para escreverem na coluna.   

Por fim, gostaríamos de perguntar o que você está lendo e pedir uma indicação de um livro que more no seu coração

VS: Estou lendo Caro Michele, de Natalia Ginzburg, escritora que descobri recentemente e na qual já me viciei. Por incrível que pareça, esse último pedido é muito difícil, porque todo mês praticamente um livro novo mora no meu coração. Poderia citar Embusca do tempo perdido, a obra mais importante na minha vida, mas eu o li em outro momento. Hoje, sem pensar muito, eu citaria qualquer um da Alice Munro. Sendo assim, indico Amiga de juventude, o primeiro livro que li da escritora canadense.  

Saiba onde encontrar Vera Saad e seus livros!

Livro ‘A Face Mais Doce do Azar’ (Claraboia)

O livro “A Face Mais Doce do Azar” está disponível na Amazon e também no site da Claraboia.

Vera Saad está no instagram em @verah_saad.

Leia Também: Em ‘O que a gente não faz para vender um livro?’, Vitor Miranda apresenta a prosa Neomarginal.

1 comentário em “‘Há ainda um espanto com esse passado recente’, diz Vera Saad sobre a recepção do seu livro ‘A Face mais doce do azar’

  1. Vera Saad Responder

    Gostei demais da entrevista, muito obrigada, Aline, pelas perguntas que ainda me provocam!

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