‘Gay Talese está apressado’, por Fernando Baldan

De terno cinza impecável, Gay Talese falou, entre goles moderados de Coca-Cola, sobre a infância, seu casamento e os métodos pacientes de escuta e investigação.

Mario Sérgio Conti e Gay Talese na FLIP 2009. Foto: Walter Craveiro (Reprodução).

Paraty, 5 julho de 2009. Uma moça da organização da Flip distribuiu post-its para as pessoas que aguardavam na fila em busca de um autógrafo do jornalista estadunidense Gay Talese. Devíamos anotar nossos nomes nos papeizinhos para facilitar as dedicatórias. Talese havia acabado de participar da mesa “Fama e Anonimato”, mediado por Mário Sérgio Conti. Eu carregava seu livro que deu nome à mesa 14 e aguardava ansioso pelo autógrafo.

Na época, eu cursava uma pós sobre jornalismo literário em São Paulo e ter acompanhado aquele evento na feira literária parecia uma realização incrível. A conversa com Talese durou menos de uma hora. Conti ainda brincou com o tempo espremido da programação, comentando que a entrevista era um desafio devido à “prolixidade” dos dois jornalistas.

De terno cinza impecável, Talese falou, entre goles moderados de Coca-Cola, sobre a infância, seu casamento e os métodos pacientes de escuta e investigação. Um deleite para quem aspirava escrever textos de jornalismo diferentes dos tradicionais. Era um ídolo pop numa festa que já tinha vibe de festival de música, com gente saindo antes do fim de uma mesa para pegar fila para outra. Talese rivalizava com Chico Buarque, outro convidado ilustre da sétima edição.

“Talese rivalizava com Chico Buarque, outro convidado ilustre da sétima edição.”

A pressa havia tomado conta de todos. Momentos depois do anúncio dos post-its, a mesma moça anunciou que eles não seriam mais necessários porque Talese ia apenas assinar os livros, sem dedicatória, para agilizar o processo. Na noite anterior, na mesa de Chico Buarque, havia acontecido algo parecido. A produção disse na fila que ele não ia dar autógrafos. Chico, porém, contestou, e, disse que ia ter autógrafos sim. Foi deslocado por seguranças para o outro lado da ponte e sentou-se numa tenda para atender os primeiros cem fãs.

Na sessão de autógrafos de Talese, com os post-its todos descartados no chão, a fila correu acelerada. Assistentes pegavam os livros das nossas mãos e iam passando ao jornalista antes que chegássemos perto. Naquele momento, baixou o fã em mim. Parei na frente de Talese e o encarei. Ele percebeu de imediato e me disse “thank you”, baixando os olhos em seguida para os próximos autógrafos. Retribuí o agradecimento e fui embora feliz com o livro de capa marrom autografado.

Fernando Baldan é jornalista formado na PUC-Campinas, pós-graduado em jornalismo literário pela ABJL (Academia Brasileira de Jornalismo Literário). É assessor de comunicação e funcionário público. “Procura-se um sofá” é seu primeiro livro.

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