Junho, livro de Emanuel Souza (@emanuelsouza.eth), é um resgate de memórias e um convite à reflexão do contexto político e social brasileiro.
Para quem viveu o ano de 2013, seja participando ativamente dos episódios históricos ou acompanhando os noticiários, Junho, de Emanuel Souza (@emanuelsouza.eth), é um resgate de memórias e um convite à reflexão do contexto político e social brasileiro. Publicado recentemente pela Editora Telha (@editoratelha), é redigido em primeira pessoa, mesclando acontecimentos reais e ficção, e tecendo, com pensamentos perspicazes e um modo de escrita fluido e muito particular, a busca pelo autoconhecimento de um jovem mestrando em psicologia, ao mesmo tempo em que o povo brasileiro descobre a força de sua união.
O livro, que conta com um sumário em formato de calendário, tendo um capítulo para cada dia de junho, nos apresenta um panorama não somente dos protestos, como do Brasil dos “anos dez” em seus múltiplos contextos. Para além do que os grandes veículos noticiaram na época – conforme mencionado na obra –, Junho revela a violência policial e o poder, a ação e a reação de um povo que, efervescente, mais do que se posicionar contra o aumento de vinte centavos nas passagens de ônibus, luta por diversos outros direitos aos quais foi tolhido. A crítica ao individualismo e a ênfase na necessidade de unidade dos brasileiros também são temáticas abordadas. Revisitando momentos emblemáticos da história política e, principalmente, da história democrática do país, conscientiza o leitor da importância de estar engajado social e politicamente. Além das reflexões políticas, a narrativa é repleta de ponderações de teor filosófico e social, que ocorrem, em muitos momentos, sob os efeitos de substâncias – temática que pode ser sensível a algumas pessoas; a esse respeito, o narrador declara que “Plantas, substâncias, forças, energias, são parte de um tudo, o caminho para a verdadeira superação é alcançar tais estudos sem o auxílio de chaves psicodélicas” (Souza, 2024, p. 125).
A maneira como Junho é construída merece destaque: personagens com os nomes de relevantes personagens da literatura brasileira, um passeio pelas cidades do Rio de Janeiro e de Niterói, bem como de sua boemia e os percursos feitos durante as manifestações, que levam o leitor – seja ele conhecedor ou não das cidades – a acompanhá-lo, dada a riqueza de detalhes das descrições ao longo de toda a narrativa, descrições estas que nos convidam à imaginação e nos oferecem um retrato do que é narrado. Mais do que contar e ficcionalizar o momento histórico de que muitos de nós participamos direta ou indiretamente, o escritor nos mostra uma nova perspectiva das manifestações pacíficas e dos confrontos, nos instigando à reflexão sobre a conjuntura política e social de nosso país.
Na obra, Emanuel estabelece um interessante diálogo com o leitor; através de seu narrador, não somente implícita como, em alguns momentos, explicitamente, dá brechas para que compreendamos que as reações de luta não podem se restringir àquele momento, mas que o povo precisa e deve continuar a buscar e lutar pelos seus direitos, quando menciona:
O gigante ainda está acordado, ainda tem forças para na rua alguns passos continuar, todavia os atentos podem perceber que começa a bocejar e seus olhos parecem tramar a bandeira do Brasil em travesseiro transformar.
Emanuel Souza em ‘Junho’
Ainda que nos remeta a acontecimentos de onze anos atrás, Junho permanece atual e propõe análises que não se aplicam somente ao voltar-se para o passado, como também o viver o presente e o apontar para o futuro, à conscientização do Brasil que queremos, pelo qual lutaremos e pelo que vale a pena lutar. Sem dúvidas, é uma história que merece ser lida, compartilhada e, sobretudo, pensada.
Onde adquirir ‘Junho’, de Emanuel Souza
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