Em comemoração ao “Dia Mundial do Livro”, colunistas da revista O Odisseu indicam os livros que foram importantes para suas construções enquanto leitor.

Por que escrever? Esta é uma pergunta que os colunistas e idealizadores da revista O Odisseu, e qualquer um que se dedique à crítica literária, recebe com frequência. O que esses objetos têm de tanto especial? E o que há de tão especial no ato da leitura que nos faça ficar falando por tanto tempo sobre os livros?
Para responder a essa pergunta, nós decidimos falar sobre as nossas próprias experiências de leitura a partir dos livros que nos marcaram. Esta é uma lista que celebra a leitura e as transformações que os livros podem trazer para as nossas vidas. Pegue o caderninho e anote as dicas!
Colunistas da O Odisseu indicam livros que os marcaram

Fernando Baldan indica “Pé na Estrada”, de Jack Kerouac: Li na época da faculdade, comprando num Sebo. O livro não é só sobre viagens. É sobre fugir do previsível, rasgar o mapa e seguir o instinto. Jack Kerouac escreveu com urgência, como quem tenta registrar a alma em movimento.
On the Road rompeu com os padrões dos anos 50 e deu voz a quem se sentia fora do lugar. Foi o grito da Geração Beat. Um chamado para viver com intensidade, fora do script, embalado por jazz, poesia, amizade, drogas, amor e desilusões. Me influenciou bastante.

Carol Antunes indica “O Alienista”, de Machado de Assis: Foi uma das minhas primeiras leituras e certamente influenciou na minha paixão pela escrita Machadiana. A crítica social, a ironia e o humor seco de Machado foram tão hipnotizantes, que nunca mais deixei de ler e ainda bem!

Arthus Mehanna indica “Mau Hábito”, de Alana S. Portero: Focada na realidade, luta e resistência, através do feminismo e ativismo LGBTQIAPN+, a escritora espanhola traz intensidade, emoção e discussões relevantes para a cultura em sua vivência como mulher trans. A luta com a masculinidade e heterossexualidade compulsórias, que a personagem adota como forma de defesa, remete muito à minha própria história e escolhas. Por medo, por cansaço, por isolamento. Uma identifição de dor e também de compulsoriedades contra as quais luto.

Raique Lucas indica “O romance d’A Pedra do Reino”, de Ariano Suassuna: Mais do que um livro, um verdadeiro monumento – uma Ilumiara, para utilizar um neologismo criado pelo próprio Suassuna. Li na época da faculdade, já um apaixonado pela literatura e universo suassunianos. Por vezes levava o livro no ônibus, mais parecia um “tijolão” e, sem dúvida, se caísse na cabeça de alguém deixaria a pessoa atordoada. Foi o que esse livro fez comigo: me deixou atordoado. Comecei a ter visagens e quanto mais tentava desvendar os enigmas da intrincada história de Quaderna mais me perdia em sua veredas. É um romance policialesco, épico, aventuroso… Uma Odisséia no Sertão, onde somos guiados aos recônditos da Ilha Brasil pelo Cronista-Fidalgo, Rapsodo-Acadêmico e Poeta-Escrivão, Dom Pedro Diniz Quaderna, aspirante a “Gênio da Raça” e “Gênio Máximo da Humanidade” – modesto como ele são todos os poetas e escritores, inclusive eu.

Heloísa Stefan indica “Incidente em Antares”, de Erico Veríssimo: Foi um dos primeiros “livrões” que li na adolescência. Lembro que comecei a leitura meio a contragosto e desconfiada, talvez por se tratar de uma “recomendação de adultos” ou porque caía no vestibular… Mas então essa narrativa sobrenatural e fantástica me pegou de jeito – e por isso considero este livro transformador! Com ele, descobri o poder e o papel da literatura de contar fatos reais burlando censura e repressão, de criticar, de questionar, de transformar!

Juliana Lesquives indica “Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra“, de Mia Couto: é uma das coisas mais lindas que já li. O livro, além de ter ajudado a me formar filosoficamente, fez parte da ampliação de minha percepção estética sobre o próprio labor de contar histórias, justamente pelo fato de a narrativa parecer brincar com mistério, realismo fantasioso, memória, cultura e política, de um modo riquíssimo esteticamente falando.

Danilo Moreira indica “Notícias de um sequestro”, de Gabriel García Márquez: Quando mudei de Relações Públicas para o curso de Jornalismo, o professor indicou este livro como uma imersão. É um livro-reportagem que mostra um pouco da Colômbia nos tempos de Pablo Escobar, com o caso do sequestro de vários jornalistas. Foi o primeiro livro do Gabo que li, e além de me apresentar ao universo fascinante da escrita dele e do estilo do livro-reportagem, modificou bastante a minha visão referente às políticas contra as drogas ilícitas.

Lili X indica “As Malditas”, de Camila Sosa Villada: O primeiro texto que escrevi sobre esse livro tinha o título “Há luz no parque”, curiosamente enquanto certas pessoas tentam ancorar esse livro como autobiográfico – nas palavras da autora baseados exclusivamente na violência – este livro “imerso em um mundo que não existe” é mais próximo da realidade e humanização justamente por seus momentos luminosos onde só se espera escuridão. Há muito mais do que violência para nós, pessoas trans.

Rodrigo Jorge indica “Infância”, de Graciliano Ramos: um dos livros mais bonitos que já li. Embora eu prefira S. Bernardo, obra que coloca o Velho Graça como um maiores da literatura universal, Infância nos desafia justamente por nos conduzir a uma escavação afetiva e social do tempo. O escritor e o menino se atravessam na narrativa como quem abre e fecha portas e janelas de uma casa, deixando uma fresta de luz invadir e nos fazer perceber as trevas ao redor. “Na escuridão percebi o valor enorme das palavras”, ele diz em um dos capítulos. É um livro sobre infância, claro, mas também sobre desigualdade social, injustiça, solidariedade e a importância da literatura para a compreensão do nosso lugar no mundo.

Ewerton Ulysses Cardoso indica “As Meninas”, de Lygia Fagundes Telles: Ainda lembro da madrugada em que terminei de ler “As Meninas”. Apesar do título pouco provocativo, foi uma obra que mexeu comigo justamente por me colocar em contato com aquilo que parece desordeiro. Um caos que é interior, uma crueldade, uma tortura, uma ditadura que acontece nas entrelinhas.
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