A ideia de ‘traduzir a Bahia’ foi motivo de quase todas as questões da mesa ‘Meu Trabalho é te Traduzir’, na Bienal da Bahia. Desde as personagens de Rita e Edvana nas versões da novela ‘Renascer’, até o filme Cidade Baixa de Sérgio Machado.
“Não é autoajuda o que fazemos, mas salva vidas, e isso é lindo”
Rita Santana durante a mesa ‘Meu Trabalho é te Traduzir’
Talvez Marguerite Duras, Clarice Lispector, e, com ressalvas, Ferreira Gullar, tenham feito isso por Rita, e ela agora faz por nós, junto desses e tantos outros.
A mesa intitulada “Meu trabalho é te traduzir”, com Rita Santana, Edvana Carvalho e Sérgio Machado (mediados pela excelente Denny Fingergut, que soube bem fazer o papel da mediação, qual seja aquele de trazer os convidados para o centro) às 14 horas do dia 1° de Maio de 2024 no espaço Café Literário da Bienal do Livro da Bahia, convida mesmo ao que principalmente Rita belamente nos trouxe em sua fala: a dubiedade que é ser artista e ser também gente da gente, que ri e que sofre.
O poema “Traduzir-se”, do já citado Ferreira Gullar, diz que “uma parte de mim é todo mundo; outra parte é ninguém: fundo sem fundo”, também interroga: “Traduzir-se uma parte na outra — que é uma questão de vida ou morte — será arte?”, nos leva à fala de todos aqueles “tradutores” que ali estavam, e, como bem salientou Rita Santana, é de vida ou morte mesmo!
Cinema e televisão na Bienal da Bahia
A participação do cineasta Sérgio Machado versou bastante sobre a ideia de fugir do estereótipo na representação. Durante suas falas, ele fez questão de enfatizar o quanto se envolve de modo visceral com seus projetos: passa meses convivendo e vivendo ali entre as pessoas que quer representar nas telas. O artista é antes de tudo o ser-humano que ri, bebe, dança e canta, frequenta becos e vielas dos recantos mais sórdidos da cidade para ser parte daquilo.
E a presença de Edvana Carvalho ali nos aproxima ainda mais dessas ideias da vivência artística. Ela afirmou que no seu processo de atuação, torna-se de fato aquela personagem que vive. É como se a artista Edvana desse espaço para essa manifestação que é a personagem, como bem estamos vendo, por exemplo, com Inácia na novela “Renascer”. É também um tipo de trabalho visceral. E estando a poucos metros de Edvana, pude constatar o quanto parece mesmo outra pessoa ali diante de nós. Ela empresta corpo e voz e vive intensamente o processo de atuação de suas personagens. Como ela própria diz, iconicamente, “é a Bahia!”.
Imprevistos na programação da Bienal impedem que o público faça perguntas aos convidados
A ideia de traduzir a Bahia foi motivo de quase todas as questões da mesa. Desde as personagens de Rita e Edvana nas versões da novela “Renascer”, até o filme Cidade Baixa de Sérgio. Rita Santana falou ainda do seu livro Borrasca, e do quanto a artista Rita vive também de modo intenso a escrita da poesia.
No entanto, num dia de Bienal tão cheia (a ponto de uma das escadas rolantes parar, faltar ar condicionado na parte inferior e faltar luz), o Café Literário não esteve com sua lotação máxima para prestigiar as figuras ali, embora muita gente tenha aparecido para assistir à mesa e o público tenha sido muito participativo durante as falas. Não sei ao certo o motivo, mas acredito que o fato de não terem anunciado a presença de Edvana na programação disponível no site oficial pode ter colaborado com isso. Outro ponto negativo que gostaria de colocar é que, com o novo arranjo da programação (para que pudessem colocar a mesa que seria na Arena Jovem ali no Café Literário), acabou não tendo espaço para que o público fizesse perguntas.
Eu, por exemplo, gostaria de perguntar para a Edvana como ela se sente levando às casas de tantos e diversos brasileiros Inácia, essa personagem que sempre rouba a cena e cativa tanto a gente.