‘Todo mundo tem mãe, Catarina’, de Carla Guerson, é uma experiência comovente

Em ‘Todo mundo tem mãe, Catarina’ (Reformatório, 2024) Carla Guerson utiliza uma narrativa suave e envolvente, transportando o leitor para um ambiente familiar e acolhedor. 

Carla Guerson, autora de ‘Todo mundo tem mãe, Catarina’ (Reformatório, 2024). Foto: Divulgação.

Antes de começar a ler “Todo Mundo Tem Mãe, Catarina” (e já estou te dando essa dica porque sei que você vai querer ler), dê uma boa olhada na capa. Ela merece ser apreciada com atenção, pois as cores e a ilustração de Mariana Zanetti capturam perfeitamente a delicadeza e a solidão presentes no livro.

Ao abri-lo você encontrará uma casa de vó: pequena, simples, com cheirinho de bolo de cenoura. Verá Catarina chegar da escola, encontrar seu melhor amigo, também adolescente, ávido para fofocar sobre os colegas e a vizinhança. Delícia, não? Essa é a atmosfera que Carla Guerson criou para contar a história de Catarina. A autora utiliza uma narrativa suave e envolvente, transportando o leitor para um ambiente familiar e acolhedor. 

Catarina é uma menina doce e delicada que vive com a avó porque não tem mãe. Ou pensava que não tinha até começar a frequentar a escola. Durante uma tarefa nas séries iniciais, ao dizer que não poderia fazer um desenho para a mãe porque não tinha uma, a professora afirmou: “Todo Mundo Tem Mãe, Catarina”. Essa frase despertou uma curiosidade que cresceu e se tornou quase palpável na adolescência, principalmente devido à insistência de Gustavo, seu melhor amigo, para saber mais sobre o pai de Catarina, já que até então sabia-se apenas que a mãe havia morrido.

Conhecemos Gustavo logo no início do livro, e Catarina descreve o amigo da seguinte forma:

“(…) O Gustavo adora as páginas de fofoca, ama saber da vida dos outros (…) Essa era uma mania que eu gostava no Gustavo, é ótimo saber das fofocas dos moradores e famosos. Até o Gustavo mirar a fofoca em mim.”

Na verdade, acredito que Gustavo não queria fazer fofoca, mas sim sanar a curiosidade sobre os pais de Catarina. Ele não imaginava as implicações que isso traria para a vida de ambos.

Outra personagem é Vó Amélia,  que enfrenta a difícil tarefa de ser uma avó-mãe. Já convivi com avós assim e sei que não é fácil. Se para as mães é difícil encontrar os limites da indulgência, imagine para uma avó, que além disso carrega o medo de cometer os mesmos erros que cometeu com os filhos e enfrenta o conflito de gerações. Mas Catarina teve muita sorte, pois Dona Amélia conseguiu superar essas diferenças para criar a neta. Há um trecho lindo onde Catarina conta:

“(…) Pediu que eu me sentasse por uns minutos, que ela tinha uma coisa para me explicar. (…) Emendou que ninguém nunca explicou isso para ela e que ela não tinha tido essa conversa com minha mãe na hora certa, e por isso agora queria acertar.”

Para mim, Vó Amélia é um poema de Adélia Prado:

Ensinamento

Minha mãe achava estudo  

a coisa mais fina do mundo.  

Não é.  

A coisa mais fina do mundo  

é o sentimento.  

Aquele dia de noite,  

o pai fazendo serão,  

ela falou comigo:  

“Coitado, até essa hora no serviço pesado.”  

Arrumou pão e café,  

deixou tacho no fogo com água quente.  

Não me falou de amor.  

Essa palavra de luxo.

Vó Amélia também falava de amor assim com demonstrações de carinho, como este, descrito por Catarina:

“(…) A Vó fez um bolo de cenoura, do jeitinho que eu gosto, e deixou em cima da mesa. Assim que cortei um pedaço e sentei na mesa da cozinha, ela sentou na minha frente: pode me contar tim-tim por tim-tim tudo que a senhorita aprontou para estar assim desse jeito, Catarina.

(…)

No dia seguinte, avisa que eu posso ficar em casa e me dispensa das faxinas da semana, talvez seja o jeito dela de dizer que me entende ou que tem pena de mim. Aceito a folga e resolvo sofrer o que preciso sofrer, não tenho vontade de falar com ninguém. Chego da escola e vou direto para o quarto, me enfio nas cobertas, mesmo com o calor que faz nessa cidade. Só quero ficar no meu canto, suando e remoendo o quanto a vida é injusta para mim.”

Me comovem os momentos em que as duas assistem novela juntas. Trazem lembranças e muita saudade, pois eu também tive uma avó noveleira.

Mas, e toda  história tem um mas…chega um momento em que precisamos crescer. Quando esse momento chegou para Catarina, ela não apenas começou a desvendar os segredos de seu passado com Gustavo, mas também os segredos de seus corpos, perdendo a inocência juntos e descobrindo novas sensações e consequências. Há um momento em que Catarina diz:

“Sinto que preciso aprender tudo ao mesmo tempo: ser menina, ser filha, ser mulher, ser Catarina.”

Não quero dar spoiler, então vou finalizar o texto por aqui, dizendo que foi uma delícia acompanhar essa jornada de amadurecimento com Catarina. Carla Guerson cria uma narrativa envolvente que toca em temas universais como a busca pela identidade, o papel da família e a transição para a vida adulta. A riqueza dos personagens e a profundidade das suas relações tornam a leitura uma experiência comovente.

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