‘Bem-vindos à livraria Hyunam-Dong’: de leitor para leitor

‘Bem-vindos à Livraria Hyunam-Dong’, da autora coreana Hwang Bo-Reum, é uma carta de amor a todos os leitores que têm a sorte de se esbarrar com esse livro em uma tarde chuvosa.

A autora coreana Hwang Bo-Reum, autora de ‘Bem-vindos à livraria Hyunam-DONG’/ Foto: Seong Ji-min (Clayhouse Inc)

Com uma atmosfera aconchegante e personagens que crescem ao longo da narrativa, Bem-vindos à Livraria Hyunam-Dong, da autora coreana Hwang Bo-Reum, é uma carta de amor a todos os leitores que têm a sorte de se esbarrar com esse livro em uma tarde chuvosa. Qualquer leitor se sentiria bem recebido e compreendido na livraria Hyunam-Dong, com a Yeongju lhe indicando milhares de leituras e o Minjun lhe servindo um ótimo café. Essa história nos transporta para esse local onde todos podem simplesmente ser. 

Neste livro acompanhamos a jornada de Yeongju, a dona da livraria, e de todos aqueles que passam por esse lugar. Seja Minjun, o barista do café; Jeongseo,  que vai à livraria apenas para fazer crochê e tricô; Jimi, a fornecedora de grãos de café; ou um menino que está tentando descobrir se vai ou não à universidade. Todos esses personagens, por menos centrais que sejam, tem algo que almejam, seja a realização do sonho de manter uma livraria de pé, seja conseguir ter uma vida tranquila em um mundo em que o trabalho toma todos os aspectos da vivência pessoal. Assim, cada capítulo, seguindo os desejos e desafios desses personagens, trata e discute diferentes temas.

‘A forma como encaramos o trabalho’

É um livro que tenta iniciar uma conversa com o leitor sobre o modelo de sociedade no qual nos encontramos, de forma a haver um capítulo inteiro discutindo “A forma como encaramos o trabalho” (Bo-Reum, 2022, p.129). Como o trabalho deixou de ser uma parte da vida para se tornar o tópico mais importante da sobrevivência na sociedade. Como diz Yeongju: “O problema é que a nossa sociedade é obcecada por trabalho e trabalhar tira muita coisa da gente. Nós nos afundamos em trabalho, e quando finalmente tiramos um tempo para respirar só nos sentimos exaustos” (Bo-Reum, 2022, p.133). Claro, há algumas questões que nós, como brasileiros, não conseguimos encontrar identificação com o modelo de vivência coreana, já que, por exemplo, nossas leis trabalhistas são muito mais avançadas em comparação com a Coreia do Sul. No entanto, nos vemos nesses personagens que, ainda vivendo no outro lado do mundo, têm experiências com as quais nos relacionamos, são apenas pessoas tentando se encontrar em um mundo cheio de expectativas que nem todos são capazes de cumprir. 

Com reflexões sobre a atualidade, sobre a descoberta do café por um pastor de ovelhas ou o sentimento de ser aceita, os personagens circundam por problemas do cotidiano e se encontram numa simples livraria de bairro cuja dona apenas está tentando se encontrar como todos os outros. Uma carta de amor para a literatura em si: como ela pode ser um farol no meio da tempestade, apenas uma distração no ônibus ou um lugar rico para discussões sociais. É um reforço à importância da existência de livrarias para uma comunidade: “Uma livraria é um lugar para troca de livros e tudo relacionado a literatura. É responsabilidade do livreiro garantir que essa troca aconteça” (Bo-Reum, 2022, p. 254).

Como viver não seguindo as expectativas daqueles que amamos, ou do mundo em que estamos? Ou simplesmente, será que a livraria vai sobreviver mais esse ano? Diversas questões podem surgir enquanto se lê esse livro, mas, uma coisa que provavelmente se manterá de leitor a leitor, é o sentimento de estar visitando a livraria Hyunam-Dong e tomando uma boa xícara de café enquanto lê. É um livro com premissa simples, contudo, ao ter seu foco nos personagens que vagueiam por entre os livros, se torna um abraço caloroso àqueles que amam a literatura e um “pode ficar tudo bem” para aqueles que estão um pouco perdidos no capitalismo tardio.

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‘Bem-vindos à livraria Hyunam-Dong’ (Intrínseca, 2023)

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