‘Rufem os Tambores’, por Paulo Zan

Kafka e sua noiva Felice Bauer em 1917 (Wagenbach/ Exposição Franz Kafka 1883-1924)

Eu estava rígido e frio, era uma ponte, estendido sobre um abismo

Franz Kafka

Kafka a esta hora não deve estar mais rígido, ainda que frio (se ainda resta algo para estar frio). Já são 100 anos desde que ele se foi pro submundo, uma espécie de burocracia com corredores infinitos, carimbos e muitas pastas, imagino que seja este o seu céu (ou inferno).

Agora pergunto, quem era Kafka?

“Uma criança? Um sonho? Um salteador de estrada? Um tentador? Um destruidor?”

Sei que ele gostava dessas sugestivas alegorias. Basta ler como Gregor Samsa coloca o corpo no retrato da mulher, para que lhe deixem pelo menos algo belo no interior do seu quarto. Basta ler O processo. Há cenas mais explícitas… No entanto, prefiro aquela no trabalho de Josef K., quando ele escuta gemidos dentro de um quarto até então despercebido, e aceita o impulso da curiosidade. Não sei se para sua frustração ou regozijo, o que encontra é um homem com um chicote na mão, vestindo couro e espancando outros dois que “mereciam” receber aquilo.

Para mim, nunca foi mistério. Por exemplo, ao ver o sadismo com que o oficial da Colônia observa tudo, todo o procedimento executado pela máquina.

Sim, Kafka é culpado!

E ele mesmo vai retirar toda a sua roupa e colocar-se de bruços na máquina, e aguardar ansioso pelas penetrações, enquanto imagina o sorriso no rosto daqueles que o observam.

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